7.2.13

Como Responder ao Momento Presente?


Passo a citar:
O momento ou o instante ou o que é iminente e tem o “acesso bloqueado” pode ser compreendido como aquela hora que um dia vem ter connosco, raras vezes preparados para ela, embora possamos estar quase a adivinhá-la, mesmo à espera dela — como se diz que uma mulher espera um filho —, e nessa hora um mundo acabou de morrer e nessa hora um mundo acabou de nascer, hora irrepresentável, reveladora, libertadora, esmagadora, fonte, coração de alguma coisa ou de todas as coisas. (...)
O momento presente embora tenha parentes nesta família não tem uma genealogia coincidente. Na expressão “momento presente” estão implicadas uma duração e uma evolução. Trata-se de um “aqui e agora” dotado de uma duração que se cristalizou — tomando para uso próprio o conceito de Ian Hacking tematizado em The Scientific Reason (2009) —, quer dizer, no quadro da evolução da vida pública e privada em Portugal nos últimos anos, o momento presente aparece-nos como irreversível. A partir de agora, sentimos na pele e no espírito que nada ficará igual, nada será o mesmo, quer dizer, isto a que chamamos crise — que tem costas largas e um mau alfaiate — agarrou-se às nossas vidas, moldando-as. Ainda mais, tememos que o estado de crise se torne habitual. A pergunta: até onde nos podemos habituar? tem uma medida última — que é nosso dever combater —, a do cavalo do inglês.

Maria Filomena Molder, Como Responder ao Momento Presente?, na íntegra aqui