22.10.12

memorando só há um, este e mais nenhum. será mesmo?


O "Memorando de Entendimento", o acordo que estabelece as condições em que as fatias do empréstimo da Troika serão entregues em determinados momentos, já foi objecto de cinco revisões. Cada uma dessas revisões foi negociada (às escondidas, pelo governo) e introduziu variações substanciais ao Memorando inicial. Isso traduz-se em eliminar, acrescentar ou modificar exigências que a Troika faz ao governo de Portugal. Uma parte do exercício de avaliar a forma como este governo tem gerido a crise passa por compreender estas revisões. Afinal, é nessas revisões que se traduz, em parte, a política de "ir além da troika" seguida por Gaspar seguido por Passos seguido por Portas (este fazendo de conta, como quem não quer a coisa).
Assim, espanta que se continuem a fazer exercícios de comparação das políticas governamentais com o Memorando, quando se toma para base de comparação o Memorando que já lá vai. Mais espanta que, tendo-se perguntado se não seria melhor actualizar a comparação com as revisões, se tenha como resposta "memorando há só um, este [o inicial] e mais nenhum". Não pretendo afirmar que a comparação específica que Domingos Amaral aqui faz seja afectada pelas revisões do Memorando. Não estudei o suficiente para afirmar isso. O que se trata de afirmar é que não se compreende como este governo tem mudado este nosso mundo se não se compreender como tem feito as coisas para "ir além da troika". E trata-se ainda de afirmar que, se ignorarmos as possibilidades de remendar noutra direcção o Memorando (veja-se o artigo de Miguel Cadilhe no Expresso/Economia de sábado passado, sobre a "renegociação honrada"), estamos a ignorar uma parte fundamental da equação.
É que, na verdade, memorandos há muitos.