3.10.12

a retórica da treta.


Andam por aí muitos indignados porque o PS não vai votar a favor das moções de censura do PCP e do BE.
Alguns desses indignados não acharam nada estranho que o PCP e o BE tivessem juntado os seus votos aos do PSD e do CDS para estes criarem a oportunidade de chegar ao governo e fazerem o que está à vista.
Mas nem é isso que interessa agora. O que importa é notar a facilidade com que regressam as concepções totalitárias dentro da democracia. O PS (mal ou bem, não é isso que estou agora a discutir), está a tentar representar aquela fatia da população que, se por um lado acha que o governo está a fazer disparate atrás de disparate, por outro lado também está contra o agravamento da crise política (por saber que a pagaríamos ainda mais caro do que já estamos a pagar), acha desejável que o país consiga apresentar-se lá fora como capaz de respeitar os compromissos com os credores, prefere que nos concentremos no debate sério das alternativas concretas às propostas do governo em lugar da mera censura sistemática (ainda por cima quando as moções de censura aparecem como uma liguilha entre dois partidos da esquerda da esquerda a ver quem ruge mais afinadamente).
Afinal, deitaram tanto incenso sobre as manifestações apartidárias contra "o estado a que isto chegou", mas confundem a aflição do país com a sua retórica partidária da via única para fora deste braseiro. Aliás, como poderia o PS juntar-se aos que diabolizam a Europa, quando só com a Europa (agindo de forma diferente) é possível sair deste atoleiro?