6.7.12

qual é a diferença entre suspender a democracia e suspender a Constituição?


CDS-PP pergunta a juízes se têm "consciência" que estão a assumir "poderes orçamentais".

Vai fazendo o seu caminho a ideia de que as instituições... têm dias. Quer dizer: quando der jeito, podemos colocá-las em banho-maria. Agora, é o CDS-PP que parece achar que a Constituição só é para aplicar quando estiver de feição: quem tem a culpa da declaração de inconstitucionalidade não é quem praticou a inconstitucionalidade, mas quem a declarou; quem tem a culpa é o policia, não o ladrão; como a Constituição não tuge, a culpa é do guardião. As regras são para cumprir quando nos facilitarem a governação, para contornar quando nos apetecer fazer de outro modo.

O CDS-PP, hipocritamente, defende os pobres dos privados contra os privilegiados dos funcionários públicos: o corte foi nos funcionários públicos, porque os salários baixos e o desemprego afectam mais os privados. Que hipocrisia: o corte foi nos funcionários públicos porque assim é mais rápido e mais conveniente "ideologicamente": em vez de ser um imposto (lá estão eles a cobrar mais) é um corte na despesa (os médicos do SNS e os professores da escola pública, essas é que são as despesas a cortar). Mas o seu governo, Nuno Magalhães, já está a resolver esse problema: está a precarizar mais a órbita dos que dependem do Estado, para eles não se sentirem menos inseguros do que os privados, apesar dos privados também estarem cada vez mais aflitos.

Governar em democracia é governar dentro da lei, não é querer mudar as regras a meio do jogo quando convém. Nem é insultar o árbitro quando ele apita falta - embora o árbitro também possa errar, é claro. Se os políticos com responsabilidades dão aqui o mau exemplo, estão a querer ensinar-nos o quê? Estão a sugerir que, se ficarmos demasiado apertados, também podemos quebrar as regras? É isso que nos estão a sugerir?

(Declaração de interesses: não recebo 13º nem 14º mês, há uma carrada de anos.)