7.12.11

um ministro tipo facebook.


Já hoje escrevi sobre um assunto que só num país de doidos se torna matéria de comoção geral. A contragosto, e dada a dimensão da desvergonha, tenho ainda de voltar ao mesmo terreiro.

Que haja hordas de excitados instantâneos, espalhados pela blogosfera ou pelas assim-chamadas-redes-sociais, a espumar porque leram uma frase de José Sócrates e já não conseguiram ler mais nada, nem ouvir mais nada; que ainda circule por aí tropa fandanga a servir no exército do ódio como estilo de fazer política em Portugal, veteranos da raivinha miúda incapazes de raciocinar e prontos a matar toda a palhinha do campo que cheire a José Sócrates; que as camadas intermédias do pessoal político, tendo ganho eleições a jurar pela saúde da mãezinha deles que isto era uma crise doméstica e os sacrifícios uma maldade repugnante nascida da mente deformada de José Sócrates, só se sintam à vontade quando podem berrar e fazer poeira a propósito de Sócrates - tudo isso eu compreendo. Já que o Ministro dos Negócios Estrangeiros, que nem sequer cumpre devidamente o seu papel de acompanhar os debates no parlamento acerca da UE em vésperas de cimeira decisiva, e que anda desaparecido a ver se pensam que ele não tem nada a ver com a crise, venha agora falar como quem faz comentários de ocasião no facebook, é uma vergonha. Até o antigo director do Independente, Paulo Portas, detestaria ver este MNE Paulo Portas a actuar.

A peça que a RTP passou, e que aqui deixamos, mostra a figura do senhor ministro-das-relações-exteriores-com-estudantes-seniores-em Paris (daí o seu interesse pela charla de Sócrates) a deturpar a intervenção do homem que mesmo de longe o assombra com a comparação que a história fará deles. Mas também mostra que Sócrates não disse só aquela frase que foi retirada do contexto para o atacar. Mostra Sócrates a dizer, nomeadamente: "Claro, não devemos deixar crescer a dívida muito, porque isso pesa depois sobre os encargos. Todavia, para um país como Portugal, é absolutamente essencial, para a sua modernização, para o seu desenvolvimento, ter financiamento, quer para a modernização das suas infraestruturas, quer para a modernização das suas políticas, quer para o crescimento da sua economia.» Isto seria suficiente para perceber o ridículo das declarações do senhor MNE, tão claramente deturpadoras. Mas, mais do que isso, esta peça mostra bem o que continua a ser a política deste país. Desgraçadamente.