30.9.11

um Estado às arrecuas.


Eni e Amorim chumbam novo ‘chairman’ da Galp Energia.

O Estado, sob esta concepção agora dominante, deve retirar-se das empresas. Sim, em certos casos isso pode ser ajuizado, não queremos uma economia estatizada, nem pouco mais ou menos. Só que não é isso que os "liberais" de serviço querem: querem empurrar o Estado para fora de quase tudo, até por haver muito "país amigo" à espera de "entrar". (Aquela declaração de PPC em Nova Iorque, a dizer que havia vários países interessados nas nossas privatizações, é esclarecedora: o PM não disse "várias empresas", disse "vários países", o que devia ajudar a perceber. Mas, enfim.) Portanto, expulsar o Estado. Começou-se pelo extermínio dos "direitos especiais" em empresas onde, realmente, seria importante que o país tivesse uma palavra a dizer. De futuro veremos o que isso custa ao nosso músculo, mas desde já aparecem os episódios caricatos.
É o caso da GALP. O Estado atirou às urtigas os direitos especiais. Aparentemente, os interesses públicos mantinham lá um pé, por via do acordo parassocial, até 2014, um pequeno período de transição. Com esse guarda-chuva, o Estado queria continuar a designar o "chairman", um direito que o tal acordo parassocial lhe reservava, tendo já apresentado ao mundo o nome de Freitas do Amaral. Esqueceram-se foi de um "pormenor". O subscritor público do acordo parassocial é a CGD, que se mantém na empresa - mas que o governo quer que saia da GALP até ao fim do ano. Ora, se a Caixa sai, não pode continuar a beneficiar do acordo parassocial, ficando o Estado fora da carruagem. Nestas condições, os outros accionistas dizem ao Estado para meter a viola no saco, porque não vai agora nomear um "chairman" que fica suspenso no ar a partir do fim do ano, quando a CGD sair e riscar o último traço do Estado naquela pequena empresa que não interessa nada aos altos interesses do país que se chama GALP.
Isto não é nada. São apenas as pequenas misérias de um Estado às arrecuas. As verdadeiras questões dizem respeito à capacidade que temos, como país, de decidir por nós. Mas os pequenos episódios ajudam a ver o extremo cuidado que os nossos dirigentes colocam nestas questões.