2.5.11

os netos de Kadhafi


Já tive oportunidade, ao de leve, de mostrar que me parece promessa de grossa tolice aquilo que "o Ocidente" está a fazer na Líbia.
Depois, surgem notícias destas:

Não obstante, por muito humanitárias que pareçam, certas condenações de actos militares são ingénuas: nenhum criminoso seria alguma vez apanhado, ferido, morto, bombardeado ou sequer beliscado, se lhe bastasse rodear-se dos netos para ser deixado em paz. Estranho que ninguém condene Kadhafi por se rodear de crianças durante uma guerra, como se ninguém percebesse que isso significa que ele usa as crianças como escudo. Os sentimentos puros são muitas vezes fáceis de sequestrar pelos mais habilidosos.

Contudo, é outro o meu ponto agora. Trago à vossa consideração um comentário de Henrique Monteiro no Facebook: "Um dia, um daqueles que se opôs indignadamente à invasão do Iraque por ser imoral e agora apoia esta intervenção, há de explicar-me a diferença moral entre as duas. Não vale falar do mandato da ONU, que eu pedi a diferença moral, não a política..."
Soa bem, não soa?



A mim não. A mim não me soa bem. Por quê?

A diferença moral introduz uma diferença política - desde que os membros da comunidade não sejam moralmente incapazes. Mas também a diferença política introduz uma diferença moral: a moral não vem do céu, nem vem apenas "do coração" do homem, não é apenas subjectiva, também deve contar com a dimensão do que a comunidade entende ser adequado e proporcionado. A meu ver, isso quer dizer que está muito errado não contar a legitimidade política no plano da moral (embora sem confundir legitimidade com legalidade). Assim sendo, aquele comentário de Henrique Monteiro parece-me moralmente duvidoso: mais uma versão (embora talvez original) da ideia de separar a moral da política.

Posso estar errado - mas onde?