1.4.11

um presidente conveniente


O Presidente da República, falando ontem ao país, empurrou para o governo agora em gestão a tarefa de chamar o FMI. Tirando os rendilhados, é isso que diz neste passo:
Nos termos constitucionais, o pedido de demissão do Primeiro-Ministro, que hoje aceitei, implica a demissão do Governo, o qual se manterá em funções para assegurar a gestão dos negócios públicos.
A actuação do Governo fica, portanto, a partir de hoje, circunscrita à prática dos actos estritamente necessários à gestão dos assuntos do Estado.
Mantendo-se em funções para assegurar a gestão dos negócios públicos, o Governo não está impedido de praticar os actos necessários à condução dos destinos do País, tanto no plano interno, como no plano externo, dever tanto mais acrescido quanto o momento que atravessamos é de grande exigência e responsabilidade. Neste contexto, compete ao Governo actuar de forma imparcial e transparente na utilização dos recursos do Estado.
Quero publicamente, perante os Portugueses, garantir que o actual Governo contará com todo o meu apoio para que não deixem de ser adoptadas as medidas indispensáveis a salvaguardar o superior interesse nacional e assegurar os meios de financiamento necessários ao funcionamento da nossa economia. No mesmo sentido, apelo a uma atitude de cooperação responsável por parte dos partidos da Oposição.
Acho que valia a pena recordar agora a forma escandalizada como forças diversas reagiram, no passado, a decisões de outros governos de gestão, facilmente acusados de abusarem das suas competências nessas circunstâncias. O foco do debate costumava ser a justificação de que esses actos eram actos de gestão corrente, não implicando decisões propriamente políticas.
Agora, porque é conveniente, diz-se que uma decisão da gravidade de contratar os termos de uma ajuda internacional pode ser considerada "gestão corrente". Ignorando olimpicamente que esse tópico foi central no próprio espoletar da crise política. É que não é só pedir a massa: é preciso assumir compromissos quanto às politicas a seguir, que os "benfeitores" exigem para nos "estender a mão".
Parece, infelizmente, que o PR, com esta mensagem, está a querer "simplificar" as coisas para facilitar a vida aos seus amigos do PSD: está a querer que seja o governo do PS a fazer aquilo o PSD poderá ter provocado com esta gestão da crise. Cavaco Silva está a agir, demasiado descaradamente, como elemento da estratégia eleitoral do PSD, que consiste em obrigar o PS a fazer aquilo que o PSD quer que aconteça, mas sem ter de assumir as respectivas responsabilidades. Comparado com isto, o episódio das acções do BPN ou a trapalhada da Casa da Gaivota são mero entretenimento. Este episódio consagra, na história desta república democrática, a mais despudorada manipulação do exercício presidencial para obter lucros partidários.