12.4.11

programas: de muito pouco ou nada à proliferação desordenada


Nuno Morais Sarmento, no programa "Falar Claro" da Renascença, afirma, sobre a apresentação de Fernando Nobre como candidato a presidente da Assembleia da República, o seguinte: «O lugar de presidente da Assembleia da República é um lugar de intervenção passiva.» Está ele a tentar explicar que a escolha de Nobre para tal função é desadequada.
Ora, não é nada assim que Fernando Nobre entende as coisas. Segundo a edição de ontem do Diário Económico, Fernando Nobre «adiantou estar já a preparar um programa que submeterá aos futuros líderes parlamentares, "para gerar mais consensos, para reforçar o regime e a Democracia, para abrir novas oportunidades de auscultação e diálogo com os cidadãos"». Ah, agora os presidentes da Assembleia da República também têm programa... Com um pouco de jeito, ainda consegue inventar um governo de iniciativa presidencial... do presidente da Assembleia. Havia de ser bonito. (Ainda bem que Nobre não sabe quem serão os futuros líderes parlamentares, se não haveria de querer começar já a reunir com eles para lhes explicar o seu "programa".)

Vamos lá a ver se nos entendemos. Não tenho nada contra a chegada de independentes à política. Se Nobre tivesse andado a dizer este tempo todo que "a política precisa de renovação, os partidos precisam de renovação, isso faz-se com gente que vem de outras vidas, quando eu achar que é importante intervir darei a minha colaboração a um partido, aquele que na altura entender que está a fazer o melhor trabalho para o país" - se ele tivesse andado a dizer isto, a sua actual candidatura seria entendível. O que cheira mal é querer pular para número dois do Estado, poucos meses depois de se ter candidatado a número um, nas listas de um partido político cujas propostas actuais são o oposto daquilo que Nobre defendeu anteriormente, poucos dias depois de ter jurado a pés juntos que nem com uma mó ao pescoço faria tal coisa. Os mais gravosos contributos para a degradação da política vêm muitas vezes dos mais radicais críticos da política e dos políticos. Dito de outro modo: as supostas virgens são frequentemente fracas conselheiras de virtude, porque falam do que não sabem e acontece ficarem alucinadas quando lhes dão a provar da vida.