11.4.11

em torno da noção de compromisso, acreditar na inteligência dos cidadãos


Ali mais abaixo divulguei o texto Um Compromisso Nacional, subscrito por um lote muito diversificado de personalidades da vida pública portuguesa, onde se especifica a necessidade de, em dois planos diferentes, fazer convergir diferentes visões acerca das prioridades para o nosso país. Não vale a pena estar aqui a repetir o texto, por favor não deixem de o ler.

Venho aqui agora por causa de um comentário que o estimado JPN lá deixou. Depois de citar o documento, no ponto em que especifica os dois compromissos sugeridos, JPN comenta: «isto é contraditório com algumas posições assumidas por alguns dos signatários».

Respondi-lhe o seguinte: «Joaquim, é claro que é verdade o que afirmas. Qualquer compromisso passa por abandonar algumas das coisas que se disseram anteriormente. Muitas vezes um compromisso passa por aceitarmos pessoas que não apreciamos. Não em nome do que está para trás, mas em nome do que podemos fazer para a frente. Compromisso é isso. Infelizmente, essa tua reacção imediata é a de muita gente. Não conseguimos pensar para lá disso? Devemos, acho eu.»

Trago para aqui este diálogo de caixa de comentários por querer sublinhar isto: precisamos de um compromisso e um compromisso não é uma soma do que já se sabe. Compromisso é admitir que talvez as nossas ideias não sejam as únicas boas, que talvez algumas das nossas ideias até nem sejam assim tão valiosas como isso, que certamente algumas das nossas propostas são menos essenciais do que outras e podem ser trocadas por outras formas de fazer as coisas. Compromisso é encarar positivamente o facto de não vivermos num mundo onde toda a gente concorda connosco, aceitar que não deixámos para os outros o monopólio do disparate, prescindir de estar sempre a fazer contas ao passado e começar a fazer mais contas de futuro. Compromisso há-de ser, também, começar a falar de outra maneira, com menos insultos, com palavras mais neutras para falar dos defeitos dos outros (e dos nossos), incidindo mais nas diferenças objectivas das propostas do que nas cores de guerra que elas prometem. Isto parece-vos conversa da treta?
Dou apenas um exemplo de uma forma menos ideológica de discutir, que gostaria de ver acontecer. Caixa Geral de Depósitos, privatizar ou não. Em vez de dizermos que o PSD quer entregar o ouro ao bandido, podemos explicar quais as funções que a CGD pode desempenhar sendo pública e não pode desempenhar sendo privada. Essa discussão pode, aliás, ter a vantagem de analisarmos mais criticamente se ela tem feito bem aquilo que justifica o seu estatuto. A forma como Paulo Portas colocou a questão, por exemplo, não resolve definitivamente o problema, mas é uma modalidade de discussão mais concreta e menos agressiva ideologicamente neste momento: agora não é o tempo de privatizar a Caixa, porque a situação financeira não promete uma boa venda.

Estou convencido que os partidos que mais rapidamente dêem mostras de querer ir pelo caminho do compromisso, sairão beneficiados eleitoralmente. Já aqui defendi que o PS deve mostrar mais empenho em tecer convergências com outras forças políticas, quer à direita quer à esquerda. Por eleitoralismo? Se ser eleitoralista é reconhecer aquilo que o país precisa e as pessoas entendem, então que seja por eleitoralismo. O PS e os demais partidos parlamentares são co-responsáveis por termos tolamente iniciado esta legislatura com um governo minoritário. Que mal vem ao mundo por reconhecerem, todos, que subestimaram o risco dessa situação? Reconhecendo-o, poderão começar a agir em conformidade.

Está na hora do compromisso. Concreto. Quer dizer: exemplificado. "Estamos dispostos a analisar isto e aquilo, em rever neste e neste ponto o que dissemos antes, para facilitar uma convergência." Não estou a pedir que a política se transforme no chá das cinco das tardes sensaboronas. Nem estou a pedir que desapareça um certo grau de agressividade, que é normal e saudável - e até divertido. Estou a pedir que isso não impeça que se faça o que há para fazer. Será que ninguém acredita na inteligência dos cidadãos?