19.4.11

e não há um crime de gestão danosa do debate público?


O Diário Económico promove a iniciativa "Uma ideia para Portugal sair da crise. Qual é a sua?". Pedro Sousa Carvalho, subdirector, acha-se na obrigação de ter também uma ideia.
Bem sei o que custa por vezes precisarmos de uma ideia de jeito e só aparecerem trambolhos. Nesse escabroso processo de tentar parir uma ideia que valha a pena, Pedro Sousa Carvalho percorre o doloroso caminho das pedras (dizer cobras e lagartos de todos os partidos, ou quase todos), passa pela ideia não original de criminalizar a política (os fracassos da governação) e acha que isso é demais - mas fixa-se numa brilhante contribuição para a teoria política nacional. Passo a citar: "os políticos que façam uma gestão danosa da coisa pública deviam ser proibidos de voltar a ocupar o lugar".
Claro, não passa pela preclara mente de Pedro Sousa Carvalho que para saber o que é "a gestão danosa da coisa pública" não há um danómetro que meça a coisa mecanicamente. Para apreciar isso seria preciso fazer um juízo político. Que depende de muitas coisas: pontos de vista, interesses, projectos, avaliações, etc. e tal. E que a vida em comum é muito mais complicada do que parece ser entendível para certos subdirectores de diários económicos. Que os programas eleitorais e as responsabilidades políticas não são livros de fiado da mercearia da esquina. E que, por isso, fazer passar esta ideia como uma "ideia para Portugal sair da crise" - é uma fraude. Talvez apenas intelectual, mas uma fraude.
Mas, claro, quem irá julgar essa fraude e condenar Pedro Sousa Carvalho por ela? Talvez os mesmos que fariam o julgamento da gestão danosa da coisa pública. Os quais teriam, portanto, de ter também competência para julgar crimes de gestão danosa do debate público.