20.11.10

Paz sim, claro


(Fotos de Porfírio Silva.)

Saí de um almoço com um membro de uma delegação a essas variadas cimeiras internacionais deste fim de semana em Lisboa directamente para a rua onde se aproximava a manifestação "Paz Sim, NATO não".


Como estas manifestações pacifistas não se fazem sem exércitos, havia um mar de bandeiras do PCP.


O BE levou um batalhão pequeno mas unido, compacto e com uma fanfarra animada.



O tom deste pacifismo é muito antigo: as armas más são as da NATO. Nenhuma surpresa por esse lado.


Já me surpreendeu um bocadinho a completa amálgama do discurso contra a NATO, contra o governo, contra Sócrates, pela greve geral. Até parece ter havido quem tenha trocado os dizeres, trazendo desta vez as pinturas que eram para ter saído à rua daqui a mais uns dias - sem qualquer menção à paz.


A "proclamação", proposta às massas por Maria do Céu Guerra (um nome engraçado para uma manif tão pacifista), oficializava essa amálgama de pacifismo com oposição e greve geral (que foi mencionada como coisa exclusivamente da CGTP, apesar de ser sabido que a UGT também entra). A proclamação foi "aprovada" por aclamação, um método conhecido.


O aparato policial, pontualmente exuberante, não mexeu uma palha.


A cidade parecia despedir-se do fim de semana maluco sem sinal de aborrecimento.


Mas, afinal, a manif oficial tinha acabado demasiado cedo e havia uma malta que tinha um bocado livre e queria continuar na rua (manifestação não autorizada, que começou nos Restauradores).


Obviamente, estas coisas causam embaraços aos cidadãos. A parte baixa da Calçada da Glória estava controlada por uma força policial, que deixava passar para a praça, mas não deixava sair da praça. Um homem queixava-se ao polícia que entrava às seis da tarde na sex shop ali mesmo e não podia chegar atrasado. Acabou por conseguir passar, já que os manifestantes se deslocavam no sentido do rio e a força policial acompanhava.

Os manifestantes estavam com muita energia, pulavam muito, gritavam palavras de ordem bastante primárias, usavam truques de bairro (do tipo "quem não pula é fascista"), mas no tocante a violência não dariam nem para organizar uma claque de futebol da terceira divisão distrital. Os polícias concentravam-se em proteger as montras, para que os turistas pudessem continuar a bebericar chá no Nicola.

Os manifestantes, que não chegaram para desmentir que as cimeiras de Lisboa foram uma excepção à violência habitual, foram até ao Terreiro do Paço pela Rua Augusta e voltaram, em parte pelas laterais, dando momentaneamente a ideia de que alguém queria fintar a polícia.


Sem consequências.


A vida continua. O mundo não ficou mais pacífico por causa desta movimentação. Mas, com sorte, as cimeiras deste fim de semana em Lisboa terão efeitos positivos em alguns dos desarranjos que se têm mostrado difíceis de gerir pela comunidade internacional.

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