23.5.10

visto de Espanha

(um quadradinho de Megalex, por Jodorowsky & Beltran)


Há uns dias o primeiro-ministro de Portugal veio a Espanha. Entre outras coisas deu uma entrevista num programa televisivo matinal de análise política, no qual falou em espanhol. Nesse programa há sempre um painel de comentadores para escrutinar o que dizem os convidados. Desta vez, o facto do PM ter falado em espanhol foi elogiado logo pela entrevistadora e depois pelo painel de comentadores. Os comentadores elogiaram a entrevista, a compreensão dos problemas que o chefe do governo português mostrou, a dimensão europeia de Sócrates, o facto daquele discurso de um responsável português não ter qualquer sombra dos costumeiros complexos face aos espanhóis. Os comentadores elogiaram a convergência entre o governo e o maior partido da oposição num momento de aperto em Portugal, acharam que a imagem do "são preciso dois para dançar o tango" é uma boa maneira de explicar a situação, mostraram até alguma inveja por isso não se ter feito em Espanha. Em suma, acharam um êxito aquele momento televisivo do PM português.
Vejo, pelo que posso acompanhar em linha do que se diz em Portugal, que os do costume - em Portugal - acham horrível tudo o que aqui se achou excelente. Há até um enorme investimento em tentar ensinar espanhol a Sócrates e ao mundo, de um momento para o outro. Que pensar?
Penso, francamente, à primeira vista, em provincianismo.
Depois, pensando melhor, acho que é demasiado estruturado para ser espontâneo. O provincianismo não costuma ser tão diligente, usa ser mais passivo. Eu, que até detesto teorias da conspiração, começo a perceber a história das "centrais de intoxicação". Que, então sim, exploram todas as energias escondidas do provincianismo. Puxam pelo que de pior há em nós. E ainda falam, nas horas vagas, de racionalidade dos agentes...