10.5.10

El Público, de Federico García Lorca


Para fechar o fim de semana, que desta vez conteve uma razoável dose de trabalho cooperativo, ontem fomos ver a peça El público, de Lorca, pelo Teatro del Temple, em estadia no Teatro Fernán Gómez, em Madrid.
A companhia aragoneza Teatro del Temple, (Zaragoza), criada em 1994 pela fusão de duas companhias pré-existentes, e com um currículo de mais de vinte espectáculos montados desde então, com uma direcção artística estável, tem explorado em espectáculos anteriores a relação entre vários vértices do surrealismo espanhol, tendo já proposto que esta peça de Lorca contém uma resposta a "remoques" artísticos que o seu amigo Luis Buñuel lhe teria feito em Un perro andaluz.



El público, da fase final de Lorca (houve por aqui uns tipos que trataram de lhe apressar a fase final...), é considerada a sua peça mais vanguardista e pessoal. Erotismo, renovação cénica de inspiração surrealista em diálogo ou disputa com as concepções dos seus amigos Salvador Dalí e Luis Buñuel, um percurso complexo. Nesta peça, os fantasmas de um encenador convocam-no a fazer um espectáculo livre de convenções sociais e artísticas e o espectador vai assistir, como num sonho, a várias tentativas de conseguir tal desiderato. O carácter visceral, transgressor e poético da tentativa não a levará ao sucesso – mas valerá como tentativa. A encenação proposta pelo Teatro del Temple tem a anunciada ambição de fazer justiça a esse impulso surrealista. Dizem que nunca se fez justiça ao vanguardismo desta obra e que eles querem fazê-lo, pegando o touro pelos cornos.

Eu, pelo meu lado, que até aprecio em geral os surrealistas, e que aprecio muito outros aspectos do trabalho de Lorca, devo confessar: percebo onde está o lado transgressor da obra, mas não percebi nada do que Lorca queria dizer com aquilo. Se era só para nos alegrar pelo facto de a maior parte do teatro não ser surrealista, conseguiu. Se havia tantas piadas privadas dirigidas aos seus amigos surrealistas que o vulgar espectador se perde, não sei se é desculpa suficiente para a minha ignorância. O que sei, e vos digo com sinceridade, é que muito raramente me sinto derrotado por um espectáculo - mas, desta feita, foi o caso. E, ainda por cima, só fui à última sessão, pelo que nem terei oportunidade de ir outra vez para tentar entrar na selva. Jogo perdido. Que pena.

Segue-se um pequeno vídeo de apresentação do espectáculo.